ONline

quinta-feira, 6 de maio de 2010

ESPIRITUALIDADE




Gula e Temperança


Assim como o sexo, é forte no homem o instinto da alimentação, mesmo porque é uma questão de sobrevivência. No entanto, o comer e o beber exagerados, desequilibra a vida e prejudica a própria saúde. Na sua bondade eterna, Deus colocou o prazer na comida, a fim de que a atividade necessária da alimentação não fosse sem sabor e desagradável. No entanto, não podemos buscar o alimento apenas pelo prazer; aí está a causa da gula.

Gula é comer além do necessário para se alimentar. Tudo o que comemos, depois que já estamos satisfeitos, é uma forma de gula, que pode ser pequena ou grande.

Para alguns, o prazer do comer, passou a ser um fim em si mesmo, e tem nisto a sua satisfação. Se frustram quando a refeição não é suculenta e variada.

Escrevendo aos filipenses, São Paulo se refere àqueles cujo ´deus é o ventre´ (Fil 3,19); isto é o alimento.

Sabemos bem os prejuízos da gula; tanto para o corpo como para a alma. Um corpo ´pesado´ debilita o espírito.

Santo Agostinho dizia que temia não a impureza da comida, mas a do apetite. Ele escreve uma página sábia sobre isto:

´Vós me ensinastes a ingerir os alimentos como se tratasse de remédios. Mas, ao passar do mal da indigência ao contentamento da saciedade, nesse mesmo momento a concupiscência me arma a sua cilada. A mesma passagem é prazer e não há outro caminho senão que nos obriga a necessidade. E, como o comer e beber são condições para a saúde, acompanha´o o prazer, perigoso escudeiro, que muitas vezes toma a dianteira para aproveitar´se do que eu faço ou quero fazer somente para a minha saúde. A medida não é a mesma em ambos os casos, pois o que basta para a saúde, para o prazer é escasso. E muitas vezes não conseguimos discernir quem reclama aquela atenção: se o cuidado obrigatório do corpo ou a hipócrita satisfação do prazer´.

Na verdade, uma alimentação leve e balanceada, é causa de saúde para o corpo e para a alma.

Se a Igreja nos aponta a gula como um vício capital, é porque, sem dúvida, ela gera outros males: preguiça, comodismo, paixões, doenças, etc...


Santa Catarina de Sena dizia que o ´estômago cheio prejudica a mente´.

Santo Ambrosio afirmava que:

´Aquele que submete o seu próprio corpo e governa sua alma, sem deixar´se submergir pela paixões, é seu próprio senhor: pode ser chamado rei porque é capaz de reger a sua própria pessoa´.

Ghandi afirmava que ´a verdadeira felicidade é impossível sem verdadeira saúde, e a verdadeira saúde é impossível sem rigoroso controle da gula´.

O mestre indiano valorizava tanto a mortificação no comer, que dizia:

´Todos os demais sentidos estarão automaticamente sujeitos ao controle quando a gula estiver sob controle´.

´É lei da vida que devemos arcar com todas as conseqüências dos nossos atos; logo, aquele que come em demasia sente´se mal e adoece; e não é justo injerir tônicos e remédios para evitar os males da gula. Não é justo que eu me entregue às paixões animalescas e depois queira fugir das suas conseqüências´.

A natureza não sabe perdoar, é inexorável, ´vinga´se´ completamente da violação das suas leis.

A virtude oposta à gula é a temperança; evitar todos os excessos no comer e no beber.

Para destruir as raízes da gula que se aninham no jardim da nossa alma, é preciso submeter o corpo à mortificação. E esta haverá de ser sob a ação do Espírito Santo, nosso santificador.

São Paulo ensinou aos gálatas e aos romanos que somente o Espírito pode destruir em nós as paixões.

´Conduzi´vos pelo Espírito Santo e não satisfareis o desejo da carne´. (Gal 5,16)

´Se viverdes segundo a carne, morrereis, mas, se pelo Espírito, fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis´. (Rom 8,12)

A ação poderosa do Espírito Santo, aliada à nossa vontade, vem em auxílio da nossa fraqueza, e dá´nos a graça de superar os vícios.

Como remédio contra a gula a Igreja propõe o jejum; não como um valor em si mesmo, mas como um instrumento para dominar a paixão.

Há muitas formas de realizar o jejum, desde a mortificação em não comer alguns alimentos, até o jejum total. Cada um deve escolher aquela forma que mais lhe seja adequada. Sobretudo há que se cortar aqueles alimentos que mais nos tentam à gula. Por exemplo, se eu não me controlo diante de um boa macarronada; então, é dessa que eu mais preciso jejuar.

Os santos místicos afirmam que ´é impossível ver a Deus face a face se a carne não estiver crucificada com Cristo´.

Santa Catarina de Sena ensina que ´a mortificação deve ser feita de acordo com a necessidade e na exata medida das forças pessoais.´

Portanto, não se pode impor a todos a mesma mortificação como uma norma rígida, já que nem todos são iguais e nem todos possuem a mesma resistência física.

Neste ponto a Igreja é mais do que nunca sábia e mãe, exige sempre o mínimo, e deixa o resto por conta de cada um.

São João da Cruz, o grande místico espanhol, amigo de Santa Teresa, ensinava que o importante é cortar o amor aos prazeres deste mundo.

´Para atingir o estado sublime de união com Deus, é indispensável atravessar a noite escura da mortificação dos desejos desregrados e da renúncia a todos os prazeres deste mundo´.

Santa Teresa afirmava que: ´desde que me trato com menos cuidado e delicadeza, passo muito melhor´.

Sobretudo temos que dominar a língua. É o órgão da palavra e do gosto. De um lado, com a língua, caímos no exagero e dizemos mentiras e pronunciamos palavras que ferem. De outro lado, a avidez do gosto torna´nos escravos da gula e passamos a ´viver para comer´ ao invés de ´comer para viver´.

Ghandi dizia que ´aquele que dominar os sentidos é o primeiro e o mais importante dos homens´.

Para sermos felizes e tranqüilos temos que dominar as paixões, com o auxílio da graça. As paixões são para o nosso espírito o que a tempestade é para o mar.

É claro que para isto será necessário o sacrifício, mas é ele que diferencia o homem da besta. Não é possível querer levar uma vida pura sem sacrifício. O corpo foi´nos dado para servir e não para gozar; o prazer egoísta, passa, e deixa gosto de morte; o sacrifício gera a vida.

O jejum é como se fosse uma dolorosa oração; a oração do corpo. É uma arma poderosa. Jesus afirmou que alguns demônios só podem ser expulsos pelo jejum e pela oração. É algo que purifica e fortalece a alma, e derruba muitas barreiras espirituais. Traz à pessoa uma paz celestial.

Como vivemos na ´comunhão dos Santos´, estamos todos ligados num só corpo de Cristo pelo batismo, o meu jejum beneficia também os outros, tem efeito sobre as almas dos outros; e, neste sentido, aumenta ainda mais o seu valor. Portanto, o jejum purifica a você e aos outros.

Não é à toa que Cristo jejuou quarenta dias no deserto da Judéia, antes de enfrentar as ciladas terríveis do Tentador, que o queria afastar do caminho traçado por Deus para Ele seguir, para salvar a humanidade.

Ghandi dizia que quando se sentia impotente para resolver os seus problemas, então jejuava; isto é, ´colocava a sua cabeça sobre os joelhos de Deus´.

Sem aderir plenamente ao Cristianismo, Ghandi viveu o Evangelho, e afirmava:

´Quando a dor é insuportável, é preciso jejuar e orar´.

É preciso dizer aqui que muitas pessoas tem o ´hábito´ de comer demais, às vezes de maneira compulsiva, que revela ´fuga´ de outros problemas. Nestes casos será preciso uma análise do comportamento, e buscar a cura deste mal com a ajuda de um psicológo e da oração de cura interior
.

DO LIVRO ´OS PECADOS E AS VIRTUDES CAPITAIS´ do Prof. Felipe de Aquino

Sem comentários:

Enviar um comentário

 
Copyright © Passos em Flor
Convert By NewBloggerTemplates Wordpress by WpThemesCreator