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domingo, 6 de junho de 2010

LENDA DE SÃO TORCATO

Havia um senhor aqui desta zona [nos limites de Barcos] que tinha muitos filhos e, um dia, encontrou um cigano que trazia, com licença, muitos burros com ele. E como precisava de um, disse ao cigano que trocava um dos filhos por um burro.
O cigano aceitou. Só que o cigano também tinha muitos filhos, e, por isso, tratava muito mal o filho que não era dele. Quer-se dizer, batia-lhe muito.
O rapaz, que se chamava Torcato, vendo-se tão maltratado e sabendo que o pai o tinha trocado por um animal, um dia pegou e fugiu. Foi então viver para um cerro, e ia ao rio de joelhos onde comia sete bocadinhos de erva e, no fim, trazia sete molhinhos com ele para o outro dia. Comia só erva!
Quanto à vida que levava, era assim: lá no cerro, do lado de onde lhe vinha o frio, num dia fazia uma paredinha ao outro dia, o frio vinha do outro lado, e ele fazia outra paredinha. Até que, de paredinha em paredinha, fez um cardenhinho para se recolher.
E lá morreu. Deram lá com ele. Depois levaram-no e enterraram-no. Só que, ao outro dia, já ele não estava no mesmo sítio. Voltava para o cardenhinho. Viram então que era santo, e, por jsso, levaram-no outra vez de lá, tratando logo de lhe fazer uma capela no povo. Só que ele não se quis no povo e voltou a aparecer no cardenhinho. Ergueram-lhe então ali a capela, que é onde está. Onde ele próprio tinha feito o cardenhinho. É em Cabaços, no concelho da Moimenta.
Tenho muita fé com ele. O santinho lá está e os joelhos até estão todos esfoladinhos, de ir de joelhos ao rio.


FontePatrimónio Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1, PARAFITA, Alexandre, Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2007 , p.135

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